Encrespando

"Encrespar", na minha terra, dá a ideia de incômodo, de indignação, de alguém que deu um salto de seu lugar de conforto por algo que o incomodou. Já "alisar" é usado com a conotação de quando alguém é condescendente com algo.
Encrespo e não aliso! é um blog feito para relatar o incômodo do racismo em nossa sociedade, especialmente manifesto pela mídia e literatura voltadas ao público infantil. Sem condescendências.
Minha filha me ensinou, desde seus primeiros movimentos, a concentrar a energia de criação e a buscar a gênese. Sim, pretensiosamente, hoje, tenho um alvo mais profundo que as raízes do racismo: a sua semente. Para que não fecunde os corações das novas pessoas, dessas crianças que são nossos filhos e filhas; para que não dê mais frutos, aquelas sementes não podem mais encontrar solos férteis para renascerem racismos no mundo.
Estou mais silenciosa, mas a mente fervilha, tendo em sua grande tela a imagem de um jardim de flores multicoloridas.

sábado, 10 de março de 2012

Na Argentina não há pretas?




Mas a chapinha em Laranjinha é uma repaginada da própria produtora da Turma de Moranguinho. Já na América Latina, mais especificamente em um país chamado Argentina - na maior cara de pau, ressalve-se - para fazer o popular programa televisivo escolheram uma, usando a expressão de Helio Santos, menina "negro-mestiça", que seria reconhecida por nós como branca. Naranjita é representada por uma pequena atriz de cabelos crespos e de pele clara (bem parecida com essa que vos escreve). Não houve nenhum pudor em clarear uma personagem preta. Poderia mesmo dizer: nenhum escrúpulo.
Taí a foto das atrizes argentinas e, em destaque, a atriz de Laranjinha - a Laranjinha argentina.
Será que o céu na Argentina é verde?

2 comentários:

  1. Rebeca, na Argentina quase não tem negros, deve ter um ou outro brasileiro ou uruguaio ou descendente, mas tem, né? Segundo ouvi de um senhor argentino amigo nosso (tu sabes que o pai de Gabriel é argentino, então temos vários amigos de lá), na Argentina não tem negros porque (se segure na cadeira!), na época da guerra do Paraguai, deu uma epidemia de CÓLERA e matou todos! Agora, eles ACREDITAM nisso mesmo. Aí meu ex, vendo o absurdo disso, disse: "mas veja, a cólera matou SÓ os negros argentinos, e não os uruguaios e brasileiros?" Ele ficou sem argumento. Na verdade, boa parte dos poucos negros que viviam na Argentina morreram porque foram usados de linha de frente na guerra do Paraguai, a famosa "bucha de canhão", mas eles preferem acreditar que foi uma epidemia de cólera, como ensina o governo...

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  2. Nelia, não consegui responder direto no seu comentário, então vamos por aqui.
    Pois então, que coisa terrível, né? Uma mentira contada tantas vezes torna-se "verdade" na mente das pessoas, entranha-se de um jeito...imaginar que um vibrião é teleguiado apenas para um grupo da população, hein?
    O projeto genocida de embranquecimento foi adotado por todo o continente americano e aplicado de várias formas. Na América Latina, criar guerrilhas pra jogar na fogueira os nativos e os africanos e afrodescendentes foi uma delas. A política econômica e a geografia política também. Daí que a população negra argentina é invisibilizada, tratada como inexistente, porque afastada para áreas distintas e distantes da imagem pública da Argentina - vamos dizer, quase um "embaixo do tapete".
    Acredita que em Natal, RN, é desse mesmo jeitinho?! Lá ouvimos o mesmíssimo discurso, com a variante da tradição abolicionista que libertaram os negros e mandaram eles pra num sei onde.
    Mas vá no morro de Mãe Luísa pra ver onde estão @s negr@s de Natal...

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